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O PAPEL DO MEDIADOR DE LEITURA PARA A CIA. CIRCO DE TRAPO

Por Cia. Circo de Trapo

“Não quero faca, nem queijo, quero é fome!”

Adélia Prado

A frase da escritora brasileira Adélia Prado representa de forma clara para nós o papel do mediador de leitura, que, aos poucos, instaura a fome pelos livros. É ele quem oferece, mostra, compartilha para iniciar um processo de criação do desejo, da necessidade, não só pela leitura, mas pelo entendimento pleno do texto.

O mediador de leitura é um ser apaixonado pelos livros. Como as histórias que lê transbordam para além, surge a sua imensa vontade de compartilhar, de fazer com que elas cheguem aos olhos e ouvidos atentos e assim proporcionar a experiência única que só a compreensão de uma obra literária nos dá. O mediador de leitura é, sobretudo, um disparador de processos.

Apresentar todo o rico e infinito universo da literatura para uma pessoa é como apresentar uma comida diferente e muito saborosa para alguém. Como uma pessoa vai dizer que gosta de maçã se ela nunca comeu maçã?

De acordo com a nossa experiência em um projeto de leitura construído em uma comunidade, entendemos que, hoje em dia, praticamente qualquer pessoa já assistiu a um capítulo de telenovela, mas a grande maioria da população residente nos bairros periféricos nunca leu literatura, não experimentou o seu sabor. Ou, se leu, fez por obrigação, para fazer prova na escola.

Devido a forma impessoal e impositiva como são apresentadas aos livros, muitas pessoas têm verdadeiros traumas com a leitura. Percebemos que muitos adultos sequer aprenderam a decodificar a escrita e sentem humilhados perante aos livros, enquanto crianças e adolescentes não possuem referências de prazer com a literatura. Em um cenário como este o mediador de leitura, que ama livros, é de extrema importância para apresentar a literatura de uma forma direta, prazerosa, acolhedora e livre de obrigações.

O mediador de leitura se predispõe a ser uma ponte, apenas uma ponte, entre pessoas e livros. Ler para a criança ou para o adulto sem ser invasivo, com cuidado, respeitando o desejo e o tempo de cada um e, a cada encontro, trilhar junto os caminhos de descobertas e transformações possibilitados pelas obras literárias.

Aos poucos os vínculos vão sendo criados e a relação com os livros vai ajudando as pessoas a construírem suas próprias histórias de vida, em paralelos entre suas experiências e as narrativas literárias. Cabe ao mediador não se impor e permitir que essas descobertas aconteçam no âmbito das singularidades de cada um.

Se um país se constrói mesmo com mulheres, homens e livros, percebemos que temos muito trabalho pela frente. É necessário formar mediadores de leitura, apaixonar educadores e bibliotecários pela literatura e pelo ofício da mediação.

É também importante inserir o mediador de leitura em bibliotecas, centros culturais, hospitais, feiras livres e em todo e qualquer espaço onde haja um futuro leitor.

Assim poderemos contribuir com a formação cultural das pessoas que não tiveram acesso à leitura e construir um mundo mais humanizado.

Viva a literatura e a transformação que ela possibilita!

A Cia. Circo de Trapo é um grupo teatral que existe desde 2002 e é composto por atores, palhaços, mediadores de leitura e contadores de histórias que desenvolvem prioritariamente trabalhos voltados para a infância e a juventude.

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