O consumidor, o feirante e o mediador de leitura! Por Beto Silva
Imagine que em uma quarta feira você resolve ir a feira livre fazer compras e diante da infinidade de artigos utilitários e produtos para alimentação e tudo que possa variar de lugar para lugar, você encontre entre os velhos ditados dos feirantes e seus pregões característicos, alguém oferecendo livros, ofertando uma história, pedindo-lhe um tempo para a escuta de uma poesia, de um conto enfim, de uma narrativa literária. Parece estranho? Não é, quando afirmamos que são necessárias muitas experiências para a formação do leitor e que estas experiências ocorrem em lugares variados e diferentes dentro da cidade de São Paulo.
O papel dos mediadores no trabalho é promover encontros e a atuação dos participantes pode ocorrer das mais diversas formas, desde folhear o livro, conversar com os membros do grupo, escutar uma história, ler um livro, ser informado das ações ocorridas e até ser um ponto de referência para o encontro entre amigos. As participações são variadas e livres, o mediador acolhe os participantes e suas maneiras de participação. Neste sentido, os mediadores estão em uma dinâmica que lidam com estas variações, considerando seu objetivo, que é fazer com que os participantes possam desde se envolver com os serviços prestados, quanto ter ações voluntárias dentro do trabalho.
O mediador de leitura durante todo o trabalho prático está em constante formação. Na companhia Circo de Trapo os mediadores partem do pressuposto da garantia do acesso ao livro, leitura e o reconhecimento destes como direito. Sua ação é ler de forma gratuita para todos que estão neste cenário, nutrindo-se das experiências que assistem, colhidas do envolvimento dos participantes com a proposta.
O leitor não é, ele está sendo. Está em constante transformação do reconhecimento do livro e da narrativa e de sua relação com ela. Os mediadores de leitura também são leitores e como estes outros leitores, estão em formação contínua. Agora podemos considerar que o mediador deve estabelecer uma relação com a narrativa que oferece, vivendo cada experiência que o texto propõe, pensando nas pessoas que a recebem e nas possibilidades que possam surgir, mas nunca esquecendo que está lidando com surpresas, lidando com a literatura: lugar mais de perguntas do que de respostas.
A formação de uma nação leitora deve assegurar a leitura como espaço de transformação de uma pessoa e de sua maneira de ser, estar e atuar no mundo. Podem existir diversas iniciativas que sensibilizem e mobilizem pessoas e instituições para a promoção do livro e da narrativa literária. O livro (como veículo), a leitura (como ação) e a literatura (como arte transformadora) devem ser reconhecidos e garantidos como direito. Portanto, para a construção de uma nação de leitores é preciso que toda a sociedade se envolva nesta transformação.
A Literatura na Cesta básica está contribuindo para esta construção.
Beto Silva é pedagogo e psicopedagogo; mediador e multiplicador de leitura formado pelo Projeto Mudando a História. Há 10 anos participa da formação e acompanhamento de educadores e jovens em vários projetos de leitura em organizações sociais e escolas públicas. Atualmente é assessor técnico de A Cor da Letra – Centro de Estudos, Pesquisa e Assessoria em Leitura e Literatura, coordenador de projetos culturais e educacionais do Instituto Kleio e assessor do Programa Prazer em Ler do Instituto C&A – desenvolve projetos nas áreas de cultura, educação e saúde.